Autistas não são animais exóticos | Opinião | Miguel Souza

Autistas não são animais exóticos | Opinião | Miguel Souza

Miguel Souza sorrindo

Miguel Souza é autista, estudante de Psicologia, estagiário de Psicologia na Casa da Esperança, ativista pela neurodiversidade, membro da ABRAÇA (Associação Brasileira para Ação por Direitos das Pessoas com Autismo) e coordenador do grupo de autistas Neurodiversos.

Como estudante de Psicologia, ouço muitas pessoas falando sobre autismo em sala de aula, tanto os professores quanto os alunos, meus colegas de curso. Além da sala de aula, eu assisto palestras sobre autismo, leio livros sobre o assunto, e acompanho profissionais.

Mas isso nem sempre é tão legal assim. O que é uma pena, pois eu adoro estudar sobre autismo. Mas eu sinto que sempre tem um elemento fundamental faltando nisso tudo, que é o de considerar autistas como pessoas.
Até agora, a impressão que eu tenho é que as pessoas acham que autistas são animais exóticos que só existem nos livros e nas clínicas, que devem ser observados, estudados e moldados. Já ouvi professores falando coisas bizarras sobre autistas, como se nenhum aluno autista estivesse ali. Já ouvi colegas achando que sabem tudo sobre autismo e que podem falar pelos autistas achando que estão fazendo uma boa ação ao sentir “pena” de nós. A internet é um lugar onde não faltam neurotípicos se achando bonzinhos ao compartilhar textos “fofinhos” sobre autismo no dia 2 de abril. Reportagens sobre autismo quase sempre entrevistam pais e profissionais ao invés de entrevistar os próprios autistas. Nelas, nós sempre somos mostrados com a criança digna de pena que precisa “sair do próprio mundo”.
As pessoas não imaginam que os autistas estão ao lado delas, escutando atentamente a tudo o que dizem. Nós somos seus alunos. Sentamos ao seu lado na sala de aula. Somos seus clientes, compramos seus produtos, lemos suas reportagens, assistimos às suas palestras. Somos seus parentes, seus filhos, primos e netos. Estamos em todo lugar. Não existimos apenas nos livros e nas clínicas, não somos um personagem fantasioso, nem um animal exótico que deve ser observado. Somos pessoas, e estamos ao seu lado. Até as pessoas compreenderem isso, continuaremos sendo excluídos.
Por favor, lembrem-se de nós.
AVISO: Artigos de opinião aqui publicados são de única e exclusiva responsabilidade de seus respectivos autores. Os posicionamentos da ABRAÇA são tomados coletivamente e postados na categoria ‘MANIFESTOS’.