Racismo e capacitismo! | Opinião | Luciana Viegas

Cartaz com fundo amarelo. No meio, uma mão com os dedos fechados na cor preta. No pulso que segue a mão, está escrito: Amplify Black Disabled Lives. No meio da mão, símbolo do infinito posicionado na vertical

Racismo e capacitismo! | Opinião | Luciana Viegas

Luciana Viegas Caetano é mulher autista preta, professora, ativista pelos direitos das pessoas com deficiência pretas e membra da Abraça.

Eu passei mais de três semanas debruçada sobre essa interseccionalidade entre as duas opressões (AMÉM HIPERFOCO!) e, quanto mais eu estudo sobre isso, mais faltam palavras para descrever o quanto eu fui atravessada por elas ainda sem saber que era autista.

Quando eu fiquei grávida do Luiz, minha cabeça virou um misto de alegria e preocupação. Eu não estava preocupada com condição financeira porque eu sabia que isso era o menor dos problemas. No entanto, como desde sempre meu hiperfoco foi Raça/racismo, eu sempre soube que ter um filho preto, sendo mãe preta no Brasil, não era uma tarefa fácil.
Eu, mulher autista que sou, fiz mil planos sobre como eu iria ensinar meu filho a se portar diante de situações racistas da escola e, sobre tudo, a criar uma auto estima nele inabalável.

Nunca ninguém poderia dizer para ele que ele não era menos que lindo, e se alguém dissesse, ele não acreditaria. Quando o diagnóstico do Luiz chegou, a minha cabeça virou e eu passei a ter medo.

Aqui eu me distancio das mães brancas atípicas nesse país e digo: Meu desespero e medo não era não ter um filho “aceito na sociedade”, uma vez que somos pretos e periféricos e a sociedade já não nos aceita! Meu medo era a agressão policial à qual constantemente somos expostos, sendo o Luiz um menino preto e autista não verbal. Será que iriam ouvi-lo? Será que daria tempo de ele sinalizar que não falava?

Eu e quantas mais mães pretas atípicas estamos nesse desespero, nessa urgência de expor para o mundo que nossos filhos são pretos e diversos?

Antes de ser autista, meu filho e eu somos pretos, e somos atravessados pelo racismo e pelo capacitismo. Mas o racismo é bem mais objetivo e destruidor em nossas vidas, ele não nós da o direito de fala nem de argumentação, e estamos sempre vivendo sobre o medo de ser o alvo da bala perdida.

Dar voz as pessoas pretas neurodiversas é mais que necessário! É urgente!!!


AVISO: Artigos de opinião aqui publicados são de única e exclusiva responsabilidade de seus respectivos autores. Os posicionamentos da ABRAÇA são tomados coletivamente e postados na categoria MANIFESTOS’.