06 jun ABRAÇA na Cúpula Global da Deficiência 2019 Argentina
Fala de nossa presidenta, Fernanda Santana, na sessão de abertura da Cúpula Global de Deficiência 2019, em Buenos Aires, Argentina. Sábado, 6 de junho de 2019.
“Bom dia a todos. Eu me chamo Fernanda Santana, venho do Brasil, falo aqui hoje como presidente da Associação Brasileira para Ação pelos Direitos das Pessoas Autistas (ABRAÇA), e falo também como jovem com deficiência e como mulher autista. Eu gostaria, antes de mais nada, agradecer o convite da Riadis e de IDA, que compõe a rede na qual nossa associação está inserida, para estar aqui hoje compondo essa mesa de abertura. É uma honra fazer parte da abertura de um evento como esse.
Como membro de um grupo sub-representado, valorizo muito não só poder compartilhar experiências, dificuldades e boas práticas com todos vocês durante este e os próximos dias, mas também ter essa oportunidade de fala. Durante muito tempo, pessoas autistas tiveram sua voz e suas opiniões negadas. Suas vontades e preferências silenciadas. E suas decisões substituídas. Em muitos momentos e em muitos espaços, ainda têm. Mas com muita luta, nós estamos vendo isso lentamente mudar. Estamos conquistando pouco a pouco nosso espaço, primeiro dentro do nosso próprio movimento, e ainda muito timidamente dentro de um movimento maior de pessoas com deficiência… pra mim, eu estar aqui hoje, isso é um reflexo direto do início dessa mudança.
Da mesma forma, enquanto jovem, conheço o valor e a importância da participação, em pé de igualdade com as demais pessoas das discussões da sociedade civil organizada e dos mecanismos de incidência locais, nacionais, regionais e internacionais.
A despeito da Convenção Internacional Sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência ser clara quanto a necessidade de incluir crianças e jovens, inclusive nas consultas durante elaboração de leis e políticas públicas sobre deficiência, ainda assim, raramente nossas contribuições são levadas em conta, mesmo quando falamos com embasamento técnico e devida propriedade.
A minha história enquanto presidente de uma associação nacional é uma exceção. E isso de nenhuma forma quer dizer que nossos jovens ativistas não estejam preparados para construir, contribuir ou liderar. Mas que, infelizmente, muitas vezes não encontram real abertura para a sua participação.
Participação têm sido uma palavra chave para mim e para minha associação nos últimos anos, e ainda mais especialmente desde o comentário geral número sete do comitê da CDPD, que esclarece quem são as OPDs e em quais termos devem se dar as consultas a elas.
O meu grupo, o grupo das pessoas autistas, é um grupo muito diverso. Composto por pessoas com diferentes limitações e diferentes requerimentos de suporte. Além de todas as diversas possibilidades de expressão do Autismo, somos também, assim como todas as outras pessoas com deficiência, diversos enquanto seres humanos. Estamos inseridos, cada um de nós, em um contexto diferente, com histórias de vida diferentes, identidades diferentes. Diferentes idades, gêneros, orientações sexuais, cores, etnias, religiões, classes sociais, culturas. Sendo submetidos a múltiplas formas de discriminação e violência. Cada um de nós com um ponto de vista único e uma riqueza singular.
Simplesmente ter pessoas autistas participando, reinvindincando seu espaço sob o lema Nada Sobre Nós Sem Nós, isso é um primeiro passo. Os próximos passos para nós, o que projetamos para o futuro, são ver espaços como esse sendo ocupados pelas pessoas autistas que mais são deixadas para trás, aquelas que se expressam de uma forma diferente da tradicional. E eu não nego, tem sido um processo difícil, abrir a mente das pessoas e fazer entender que todas as pessoas são seres humanos.
Mas acreditamos no protagonismo enquanto pessoas com deficiência e enquanto sujeitos de nossas próprias histórias, acreditamos na Convenção Internacional pelos Direitos das Pessoas com Deficiência, acreditamos na importância dos governos ouvirem a sociedade civil organizada, de participarmos do processo de implementação da Convenção em nossos países, e de ter nossa opinião levada em conta em tudo que diz respeito a nossa própria vida. E, principalmente, acreditamos em todos os direitos para todas as pessoas, sem exceção.
É nesse espírito que dou boas vindas a todos e lhes desejo um ótimo dia neste Fórum da Sociedade Civil e uma experiência muito rica nesta Cúpula Global sobre Deficiência.
Muito obrigada.”