MANIFESTO PÚBLICO DA ABRAÇA SOBRE AS MEDIDAS DO GOVERNO INTERINO MICHEL TEMER COM RELAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

MANIFESTO PÚBLICO DA ABRAÇA SOBRE AS MEDIDAS DO GOVERNO INTERINO MICHEL TEMER COM RELAÇÃO AOS DIREITOS HUMANOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

Frente à apresentação da nova estrutura de Governo apresentada pelo presidente-em-exercício, a ABRAÇA – Associação Brasileira por Direitos das Pessoas com Autismo – vem expressar sua indignação quanto ao rumos que as políticas públicas de direitos humanos, em particular as voltadas para as pessoas com deficiência, parecem tomar.

Recordando todo o histórico de décadas de lutas das pessoas com deficiência e seus familiares por inclusão e reconhecimento social que se fizeram valer em normativos jurídicos e marcos políticos importantes como a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, a Lei 12.764/2012 que institui a Política Nacional de Proteção dos Direitos das Pessoas com Autismo e seu decreto de regulamentação, 8368/2014, a Lei Brasileira de Inclusão e a Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que tem status de emenda constitucional, entendemos que as mudanças efetuadas segundo a Medida Provisória nº 726, de 12 de maio de 2016,  se configuram como um retrocesso político e institucional que vêm afetar diretamente os direitos humanos das pessoas com deficiência, incluindo as pessoas autistas.

Entre outras determinações dessa Medida Provisória está o fechamento do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos e a incorporação de suas atribuições ao Ministério da Justiça e Cidadania. Segundo a nova redação dada ao Artigo 27, inciso VIII, alínea p da Lei nº 10.683, de 28 de maio de 2003, uma das atribuições deste novo ministério será a “formulação de políticas e diretrizes voltadas à promoção dos direitos da cidadania, da criança, do adolescente, do idoso e das minorias e à defesa dos direitos das pessoas com deficiência e à promoção da sua integração à vida comunitária” – sendo esta a sua única referência às pessoas com deficiência não ficando claro se será mantido um órgão de articulação específico, com status de secretaria, responsável e capaz de dar seguimento aos direitos das pessoas com deficiência no âmbito do poder executivo .

Só podemos concluir que os programas e políticas do extinto Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos passarão a ser conduzidos pelo novo Ministério da Justiça e da Cidadania. Entendemos que o rebaixamento de status do extinto Ministério para o de Secretaria do novo Ministério se constitui em perda de seu empoderamento, o que reforça nossas preocupações.

A ABRAÇA não compactua com quaisquer atitudes que ameacem os direitos humanos e se pauta pela luta para ampliá-los. Quando foi necessário, dialogamos e fizemos as críticas pertinentes aos governos democraticamente eleitos, inclusive em instâncias internacionais como Conselho de Direitos Humanos da ONU e os órgãos de tratado. Agora, nossa atuação continuará na linha de defender a esses direitos na integralidade e universalidade, apresentando e apoiando propostas e fiscalizando a sua concretização. Queremos a garantia de manutenção e ampliação de programas e políticas que os garantam, bem como apoiamos as deliberações das Conferências Nacionais de Direitos Humanos recentemente realizadas em Brasília para garantir a inclusão ampla, geral e irrestrita das pessoas com autismo ou com qualquer outra deficiência na sociedade, lembrando que os seus direitos, garantidos pela Constituição Federal e por demais leis ordinárias, para se fazerem valer, necessitam da decidida ação do Estado e da participação engajada da sociedade civil.

PELA MANUTENÇÃO  DAS POLÍTICAS E PROGRAMAS DE INCLUSÃO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA E PELO PROTAGONISMO DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA NAS POLÍTICAS PÚBLICAS

PELOS DIREITOS E PELA PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES

PELOS DIREITOS DAS CRIANÇAS E ADOLESCENTES

PELOS DIREITOS DAS PESSOAS COM DEFICIÊNCIA

PELA IGUALDADE RACIAL

CONTRA A HOMOFOBIA

CONTRA TODAS AS FORMAS DE DISCRIMINAÇÃO

PELOS DIREITOS HUMANOS

POR UMA SOCIEDADE INCLUSIVA E DIVERSA

Fortaleza, 17 de maio de 2016.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA AÇÃO POR DIREITOS DAS PESSOAS COM AUTISMO (ABRAÇA)