Os estigmas e os mitos sobre autismo | Opinião | Jéssica Borges

Jessica Borges e seu filho olham para o horizonte

Os estigmas e os mitos sobre autismo | Opinião | Jéssica Borges

Retrato de Jéssica Borges com cabelos longos, de lado, em um parque.
Jessica Borges, educadora inclusiva, palestrante, ativista, mulher autista e mãe de autista. Diretora do Instituto Lagarta Vira Pupa, membra da Abraça e do Quilombo PCD.

Hoje é uma data importante nossa comunidade autista. Um dia não só de conscientização como de desmistificação, então vamos lá:

Quando você diz que:

“O autismo é azul, porque a cada 4 meninos autista apenas 1 é menina”

Você está aumentando os estigmas e os mitos sobre autismo. De maneira geral, isso prejudica ainda mais que mulheres sejam diagnosticadas precocemente.

“Autista é anjo azul”

Além de ser uma palavra que desumaniza, reforça estereótipos de que nós não podemos viver, afinal, ao contrário disso, nós autistas, fazemos tudo que todos fazem. Comemos, bebemos, beijamos, casamos, transamos, e anjos não fazem isso, portanto, não somos anjos.

“Autistas não têm sentimentos”

Por ser um mito, você não só fortalece o que o modelo médico e a mídia inventam. Querer controlar a forma que o outro sente, porque ele não sente como você, é achar que somos incapazes de ter sentimentos, e todos têm.

“Portador de autismo/têm autismo/possui autismo”

Uma pessoa nasce autista. O autismo é intrínseco a nós. A gente não vai ali no mercado e compra autismo para se portar, ou, toma uma vacina para adquirir, nem acorda cedo e escolhe no guarda roupas se vai carregar um tipo de deficiência para possui-la. Estes termos já caíram em desuso, se atualizem.

Eu sou porta voz do meu filho porque ele não fala”

Cada autista tem sua voz e ela importa. Pais não devem e não podem falar pelos seus filhos. Toda pessoa autista fala, seja de forma oral ou não. Você o representa legalmente, mas isso não te dá direito de falar por ele.

“Tem certeza que você é autista?”

Além de por em cheque anos de estudo e especialização do profissional que avaliou o autista, você ainda descredibiliza e invisibiliza a vida dessa pessoa!

Lembrando que, nós autistas podemos ter todas as cores, orientações sexuais, identidades de gênero. Somos pessoas, sobretudo, com desejos, vontades, gostos, com nossas vozes e identidades. Nossas vidas importam!


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