OS INIMIGOS DOS AUTISTAS

OS INIMIGOS DOS AUTISTAS

 

Maurício Moreira

Maurício Moreira

Maurício Moreira
Presidente do Instituto Superação (MG)
Vice-Presidente 
da ABRAÇA na Região Sudeste 

Tenho vivido em uma onda maravilhosa de aprendizado, tomando conhecimento a cada dia de mais legislações, propostas e políticas públicas que visam beneficiar as pessoas com autismo. Tenho conhecido pessoas com experiências e conhecimento que nunca imaginei ter e me sinto afortunado, pois sentem prazer em compartilhar esse conhecimento comigo – e por que não chamar de sabedoria?

Como pai do Maxwell e do Matheus, ambos cidadãos autistas, sinto-me privilegiado, pois tenho tido a oportunidade de me tornar mais humano, receptivo e sensível às questões sociais, buscando de certa forma colaborar para que a nossa sociedade se torne melhor. De certo modo, no contexto social, alguns valores que antes conhecia foram sendo alterados como, por exemplo, a noção de que, em sociedade, o “eu” não se sobrepõe ao “nós”, e que o que eu acredito ou penso nem sempre é o melhor para o todo. Assim, o autismo inseriu-me no chamado “Movimento Autista”. Nesse movimento (ou nesses movimentos, no plural), tenho me surpreendido com várias ações e comportamentos de grupos que, em lugar de permitirem que o “nós” prevaleça sobre o “eu”, simplesmente preferem manter os “eus” disfarçados de “nós”, e onde o Movimento do Autismo tem passado por Movimento em Prol das Pessoas com Autismo. Pode parecer a mesma coisa para muitos, mas não é.

O movimento do autismo tirou várias pessoas do anonimato: pessoas com cargos políticos, alguns, e não raros, que não contribuíram com absolutamente nada para a causa dos autistas; às vezes o político sentava-se com alguns pais e apenas prometia: “quando eu for eleito seu grupo vai ganhar isto e aquilo, farei isto e aquilo para o seu grupo, não para as pessoas autistas”. E não é porque um grupo tem pessoas autistas necessariamente esse grupo defende o interesse dos autistas. Claro que não podemos esquecer que existem bons políticos, que realmente apóiam a causa das pessoas com autismo. Pessoas pseudo estrelas do movimento do autismo, pessoas que passaram a via sem jamais fazer nada de relevância política ou social de repente viram líderes. Podem ser familiares ou mesmo profissionais, lamentavelmente muitos, e não são poucos, apropriam-se de grupos e de trabalhos que não se deram ao trabalho de ajudar a construir. Hoje, entretanto, colocam-se como referências em autismo, ditando regras e tendências, apresentam-se enganosamente como “nós” e se auto-declaram salvadores dos autistas. Vinculam-se a outros “experts” da causa do autismo, porém nunca com a motivação de defender realmente o Movimento em Prol das Pessoas com Autismo.

Por último, o movimento do autismo tornou-se um Mercado Livre, onde empreendedores encontraram uma forma legítima de prosperar, vendendo bens e serviços que sempre têm uma desproporcionalidade entre o valor e a qualidade. Como, nesse movimento, muitos julgam não haver nada, acabam sendo abraçados como artífices de excelência inquestionável: cursos fantásticos arrastam multidões, onde é comum o primeiro palestrante ser desmentido pelo segundo, e o segundo pelo terceiro, onde pessoas endeusadas sequer se responsabilizam pelo serviço ou desserviço que prestam, vendendo sonhos para famílias inteiras em todo o país, porém se garantir satisfação do serviço prestado. Alguns, mais ousados, vendem fórmulas mágicas sem eficácia ou eficiência comprovada, e arrastam multidões.

Em meio a tudo isso, vemos um grupo coeso, não tão conhecido e às vezes não tão bem quisto, que decidiu não se vender ou vender algo, nem se promover indevidamente, e que decidiu defender o que é direito, o que vem de encontro às necessidades do Movimento em Prol das Pessoas Autistas, e não do Movimento do Autismo.

Um grupo que se baseia na Convenção dos Direitos das Pessoas com Deficiência, buscando como máxima garantir os direitos de todos os autistas, onde as pessoas são o foco, não o “eu, eus, meu e meus”, onde a palavra de ordem é o direito para todos os autistas, inclusive dando voz a eles, para uma sociedade cem por cento inclusiva.

Um dia eu decidi me importar com as pessoas autistas, eu fui o maior beneficiário dessa minha decisão, porque meu mundo se tornou melhor e mais rico. Decidi escolher ficar do lado onde todos os autistas são iguais a mim e a você, e onde se trabalho sem vaidades para uma sociedade melhor para todos. Nesse movimento inclusivo persistem as oportunidades para servir. Você, que também ama os autistas e que ABRAÇA essa causa, venha conosco: juntos, podemos realizar muito mais por um país verdadeiramente inclusivo.